segunda-feira, março 30, 2009

Cartas de Amor



Uma aluna, a quem dou explicações de Língua Portuguesa, trouxe para a lição de hoje uma "Carta de Amor". Pretendia que eu a corrigisse, já que se trata de um exercício de produção escrita para entregar ao professor, após as férias da Páscoa.

Este episódio, que nos valeu a ambas uma boa hora de divertimento (afinal estamos de férias !), levou-nos a concluir que já pouca gente escreve cartas de amor.A sua total falta de prática e de inspiração, apesar dos jovens 16 anos, são bem prova disso.

Nos nossos dias, com os telefones portáteis, as mensagens gratuitas, o correio electrónico e, acima de tudo, a facilidade dos postais "pronto-a-enviar" com imagem, texto e música, fazem com que o Amor não se escreva e os sentimentos não se exprimam por palavras. Daí a não se saber sequer falar de emoções vai um passo tão pequenino... E quem não fala, não se entende.

E triste, todavia.O Amor precisa de elogios, de sonhos, de suspiros e de palavras bonitas; não sobrevive a demasiados silêncios. Tudo isto apesar de "todas as cartas de amor serem ridículas", no dizer de Pessoa.Mas não seremos todos um pouco tontinhos e ridículos quando amamos?

domingo, março 29, 2009

Dos mimos e dos lavores

Há dias em que tento fazer poesia com as agulhas, as linhas e as missangas.




Pode ser um chapelinho azul para levar na lapela...



uma carteirinha a sonhar tardes de Verão na esplanada...



bolsinhas coloridas para guardar os lenços ou o telefone portátil...



ou ainda os cigarros ou os lápis.



Pequenos mimos, ingénuos, para usar, oferecer às amigas.
Pequenos gestos de quem é incapaz de ficar sentada, quietinha, frente ao televisor.

sexta-feira, março 27, 2009

Ma solitude



Ma solitude est écrite

sur le vent

de mon pays

et elle survole le feu et les flammes

de mes volcans enragés.

Ma solitude est écrite

sur la mer

de mon pays

et elle se noie dans le sable et la mousse

de mes marées oubliées.

Ma solitude est écrite

sur le cœur

de mon pays

et elle enferme le désir et la peur

de mes rêves insensés.

Parce que c’est dans la solitude

que l’on écrit le mieux,

le bonheur n’étant plus qu’une vieille habitude.



quinta-feira, março 26, 2009

Do Tempo



O Tempo roubou-nos tempo
e ainda as palavras e os gestos
e todas as pequenas coisas
que pareciam sem importância
e que , afinal, eram tão importantes!
O Tempo roubou-nos sonhos e promessas
e ainda mais palavras e mais gestos
e todos os pequenos planos
que pareciam sem sentido
e que, afinal, faziam todo o sentido!

O Tempo levou-nos as velas e a toalha de renda
e todas as flores do jardim.

E onde eram as palavras apenas silêncios.

terça-feira, março 10, 2009



antigamente o amor a preto e branco
talvez esboço de um romance colorido

antigamente ele e ela uma ilha
uma arca um tesouro escondido


Berlenga - Agosto 2008


reconheceria o nome se as sereias lho cantassem
a dor presente na neblina sobre o mar
reconheceria a cor se as nuvens lha pintassem
a nostalgia sobre a onda a navegar

há esta ilha no seu mar aqui tão perto
há este grito no seu peito tão deserto


( a ouvir Brahms na Antena 2)