sábado, março 24, 2007

Dor azul

Tinha esquecido
que a nostalgia
é uma ferida interna.
Mal incurável.
Dor peregrina. Vai e volta.
Vai e volta.
Vai e volta.

Tinha esquecido que o azul
é um reflexo de céu triste
no oceano profundo.

O ponto de tangência entre a lágrima e o soluço.

quinta-feira, março 22, 2007

Veneza


Veneza
Misteriosa, terna princesa
de mármore vestida,
sussurrante,
voz de antigas pedras medievais.

Circula-te o sangue, Veneza,
nessas veias latejantes
que são tão teus muitos canais.
Quantas secretas paixões
gemidas nos violinos
aí na Praça de São de Marcos!

Quantas breves emoções
cantam belos gondoleiros
embalando-me em seus barcos!

Ai, que saudades , Veneza,
das ruelas e das pontes
desses brilhos de Murano...

Deixa que chore a tristeza,
na ausência de tuas fontes
e do bel canto italiano!

terça-feira, março 20, 2007

Homenageando a poesia

Bouguereau

Relembro aquela noite

em que chegaste de mansinho.

Espectro ou segredo

transformando as letras

em acordes de silêncio.

Pela janela entreaberta

chegaram

cânticos de perdidas sereias

que ficaram suspensos

nos breves fios da cortina.

Disseste ser poema

e eu fiz-me instrumento

da tua rima.


A Torre dos Amores

Mulher sentada na manhã olhando o mar de véus nupciais.
Ali a Torre dos Amores recortada no céu anil dos ventos,escutando vozes de antão - gemidos impossíveis e fluídos de seres voláteis à deriva para além do oceano.
No fundo do mar,há tesouros e almas guardadas em arcas de marfim.No fundo do mar há jardins e há flores e pedaços de sonhos roubados às sereias.
Dedos longos e finos percorrem o aveludado areal na procura de um resto de quimera. Uma noite de Verão, talvez.
Espaço vazio do seu fato de linho branco.
A mulher levanta-se. Sobre o rochedo espelham-se pedaços de estrelas e uma concha solitária chorando a sua pérola
Praia de Santa Cruz