sábado, outubro 31, 2009

Convite


Bom fim-de-semana!


O calendário diz-nos que estamos no Outono. Está na hora de voltarmos a tomar chá no meu cantinho.

quinta-feira, outubro 22, 2009

Nós temos dias


Para a Maria P., em resposta a um seu comentário




Temos dias, Maria, temos dias...
Dias de Sol, dias de riso,
dias de amuo, dias de siso,
Pois é, Maria, nós temos dias.

Culpa da Lua, das suas fases,
culpa do corpo e seus segredos,
culpa do tempo e suas tenazes,
se também temos nossos medos.

Temos dias, Maria, temos dias...
Dias de Sonho, dias de Amor,
dias de raiva e até de dor!
Pois é , Maria, nós temos dias.

É deste vento que arrasta a mente,
deste vulcão que nos aquece,
do grande mar quando arrefece...
E o peito é frio, o seio é quente.

Temos dias, Maria,nós temos dias...

E temos noites compridas,luminosas ! belas!...
E temos noites despidas,apagadas velas.

Também temos noites, Maria, não apenas dias.

quarta-feira, outubro 21, 2009

Uma pergunta

De quando em vez, surge-me esta dúvida:

Se formos criados dentro de uma redoma, amados, resguardados,protegidos... em que é que isso nos transformará?

Em anjos ou em anjinhos ?

DIA DO POETA 20 de Outubro



A todos os poetas, grandes poetas, pequenos poetas,poetas mortos, poetas vivos, aspirantes a poetas , amantes e amigos de poetas, a minha homenagem, neste Dia do Poeta.



" Ó subalimentados do sonho, a Poesia é para comer!"

Natália Correia


segunda-feira, outubro 19, 2009

Retrato

Porque apetece levantar o véu...


Perdes-te nos contos, mulher,
nos círculos intemporais dos sonhos,
e acordas envolta numa espiral de lendas.

Era uma vez... o teu olhar, mulher, a tua voz.

Era uma uma vez, uma hera no jardim da casa grande.
O teu recanto, o teu refúgio, a legenda da tua meninice.

Perdes-te nos poemas, mulher,
nos segredos sussurrados entre parênteses,
e acordas envolta num xaile negro de saudade.

Era uma vez... a tua alma, mulher, teu coração.

Era uma vez, um terraço longo, imenso, sobre a cidade.
O teu castelo, o teu farol, a tua torre,o teu forte de mulher!

Perdes-te no silêncio,mulher,
nos diálogos em surdina que povoam a tua mente,
e acordas cantando no papel misteriosas rimas.

Mais uma vez, mulher. Só mais uma vez.
Abre a janela, mulher, e voa nesse céu aberto!

Gaivota sem norte te chamaram um dia
e o teu mar, mulher, é já ali.



Porque sim!



Quando o Inverno chegar,
sei que não irei inventar marés
nas veias frias e caladas do meu peito.

Quando o Inverno chegar,
sei que não irei inventar laços
nas cordas desfiadas dos sentidos.

Quando o Inverno chegar...

Quando o Inverno chegar
e os ninhos das andorinhas
chorarem de saudade
no beiral do meu telhado,
sei que não irei cantar o Sol
no reflexo prateado das minhas luas.

Por isso vivo o hoje, o agora, o já!,
enquanto há mar e luz e força e garra!

Quando o Inverno chegar...

Quando o Inverno chegar
sei que não irei amar o nome
nas páginas amarelecidas do lamento.

Quando o Inverno chegar
sei que não irei encontrar o caminho
nas pedras desgastadas pelo tempo.

Quando o Inverno chegar...

Por isso vivo o hoje, o agora, o já!,
enquanto há mar e luz e força e garra!

Por isso gritarei sempre não e não!
Por isso lutarei sempre, porque sim!

Enquanto houver mar e luz e força ...
e Amor em mim!






quinta-feira, outubro 15, 2009

A deusa


Quando penetrares na negra opacidade destes pequenos símbolos aos quais uns chamam palavras e outros vocábulos, por meras questões de nomenclatura obviamente, e neles te releres, nem que seja apenas um pouco, na breve duração deste instante onírico, poderei enfim dizer que o poema cumpriu o seu destino.

Até lá viverei cantando o mar em versos delicados,
sussurrando rimas às corolas dos antúrios,
tecendo quadras onde os gestos se ausentaram.

Alguém virá de longe para me dizer como sou ingénua e naive.

Quando penetrares
na vasta mescla desta meada de sentires,
aos quais alguns apelidam de sonhos e outros de quimeras,
por meras questões de nomenclatura,
e nela descobrires o fio condutor do meu dizer,
nem que seja apenas uma linha ou a leveza breve de um signo,
poderei então dizer que o coração encontrou enfim o seu destino.

Até lá viverei cantando a deusa que por Apolo renasceu da pedra.


sábado, outubro 10, 2009

O poeta e os demais



Quando um poeta escreve,
não escreve apenas com a mão,
com o punho.

Na verdade,
um poeta não escreve como as demais pessoas.
Um poeta escreve principalmente
com a alma liquefeita que lhe corre nas veias.
Os demais escrevem o que sentem,
o que vêem, o que cheiram,
o que provam, o que palpam.

Um poeta emociona-se. Escreve. E ponto.

Os demais amam e escrevem cartas de amor
que cheiram a violeta ou a jasmim.
Escrevem cartas e rasgam-nas,
deitam-lhes fogo,
lançam os pedaços de papel
aos quatro ventos, quando deixam de amar.
Os demais.

Um poeta apaixona-se. Um poeta sofre. Escreve. E ponto.

Os demais descrevem, narram,
traduzem, argumentam,
contrapõem,
quando escrevem.

Um poeta vibra. Escreve. E ponto.

Usam canetas de tinta permanente,
corrector especial,
papel de boa marca,
os demais, quando escrevem.

Um poeta só quer escrever. Escreve. E ponto.

Com velhos lápis,
esferográficas roídas,
no canto da toalha,
no lenço de papel,
na fralda da camisa,
no tampo da mesa,
na parede gasta,
na vela do barco...

Os demais escrevem sempre para alguém.
Para quem amam.
Para quem estimam.
Para quem respeitam.
Para quem odeiam.
Para o chefe.
Para a secretária.
Para o Senhor Presidente da República.
Para o encarregado das obras de reconstrução
da velha mansão da herdade dos cardos.
Para a mãe que não vêem há três anos
e de quem têm saudades.
Para a filha que se esqueceu
de levar a caixinha de pílulas Minigeste
quando foi de férias com o namorado para a Costa da Caparica.
Para o tipo que se está nas tintas
para a qualidade das tintas
que lhe vendeu quando o patrão o despediu e
deu meia dúzia de latas a cada empregado
em pagamento do décimo terceiro mês.
Escrevem sempre, os demais, para alguém.

Um poeta escreve para o mar,
para o céu, para as nuvens,
para o vento, para o fogo,
para o sol, para as estrelas.

Um poeta escreve pela paz,
pela igualdade,
pela justiça,
pela liberdade,
pelo Amor,
pela Terra,
pelos demais.

Sim. Um poeta escreve pelos demais.

Um poeta é poeta. E escreve. E ponto.

Mas um poeta também vive
e sacrifica-se
e passa mal
e tem doenças
e sofre
e geme
e grita
e morre
como os demais.

Um poeta morre como todos os demais.

No entanto, quando um pobre poeta morre, os demais ficam mais pobres.




segunda-feira, outubro 05, 2009

Primeiras chuvas


Deixar que o tempo se recolha
entre as velhas paredes de pedra e cal
e permanecer no silêncio
apenas ouvindo a respiração da chuva.

E se houver vozes,
que importam as vozes ?

E se houver risos,
que importam os risos?

Sob a pele da terra
agitam-se correntes secretas de rios
como mãos ansiosas que se buscam .

Sob a pele da terra
a chuva transforma-se em metáforas de anil .

E se houver gente,
que importa a gente?

E se houver gritos,
que importam os gritos?

Há que deixar que tudo permaneça no silêncio;
que o gato se aquiete no tapete,
que o caldo arrefeça sobre a mesa,
que os copos se derramem,
que as chamas se desvaneçam na fogueira...

Pois esta é a hora das primeiras chuvas,
a hora sagrada entre todas as horas sagradas!

Pois esta é a hora das primeiras águas,
o momento alfa, o instante mágico!

Sob a pele da terra
renasce a emoção.





sexta-feira, outubro 02, 2009

Por estes dias...


Por estes dias, o mar deixará de ser presença , as marés guardarão para si todos os segredos das águas profundas enquanto o poeta escreverá de cor as rimas com que amou um dia.



Por estes dias descerão sobre a terra as últimas flores das janelas como almas que se despedem do Verão e todos nós seremos folhas caídas até á próxima Primavera.


Por estes dias, alguém andará escrevendo nas margens da vida aquilo que não viveu, inventando quimeras a cada mudança de Lua.



Por este dias, há-de nascer o Joãozinho e na casa da Mãe Susana, do Pai João e da Mana Margarida será Natal antecipado.