quarta-feira, abril 29, 2009

O mar que sou

Imagem da net - autor desconhecido


Se o mar que sou se veste e segue
pela orla das falésias e areais
serei a voz que embora pregue
enrouquece no silêncio dos pinhais.

Nas mãos trago palavras desenhadas
restos de cantigas e maresias
asas breves de gaivotas deplumadas
pelas quimeras de antigas poesias.

Se o mar que sou se despe e cai
no deserto de uma duna mais sombria
serei a voz que chora a voz que vai
encontrar eco numa concha bela e fria.

No olhar guardo infinitas memórias
ternos brilhos mil luas transparentes
feitas de sonetos e de estórias
de cometas e muitas estrelas cadentes.

Se o mar que sou já me aborrece
Sou tecedeira que não tece.

Se o mar que sou já não me espanta
Sou cantadeira que não canta.


Clotilde S. 2009


domingo, abril 26, 2009

Do Feminino


No dia em que aceitarmos que o feminino não é apenas da mulher e que o masculino não se limita ao homem...

No dia em que aceitarmos que todos somos iguais na essência...

No dia em que aceitarmos que todos desejamos ser felizes de modos semelhantes...

deixaremos de ser mulher ou homem para sermos

SERES HUMANOS

unidos

pelo

AMOR.

Até lá, vamos vivendo em casulos,
criamos barreiras de silêncios,
mordaças de desespero,
e afiamos as garras
com que nos ferimos a nós-mesmos.

sexta-feira, abril 24, 2009

Cravos de Abril

Aos homens e mulheres que deram a vida para que eu hoje pudesse publicar este texto:


Quando eu nasci, Abril era apenas o tal mês de águas mil
e os cravos, os cravos eram simples flores de jardim.

Desde cedo me ensinaram, que certas conversas eram proibidas e que uma coisa chamada Pide levava homens bons para Peniche onde homens maus lhes batiam muito. Para mim, Peniche era a praia e a casa dos meus tios, os beijinhos lambuzados do meu primo Diamantino e todos aqueles barcos bonitos no cais e no mar. Não entendia como se podia fazer mal a alguém num sítio assim.

Mas aos cinco anos, quando os meus pais, uns tios , dois primos e eu íamos emigrar para França, fomos detidos em Elvas por denúncia. Aprendi depressa o que era essa tal coisa da Pide. Lembro-me que os homens ficaram presos numa cela imunda e que as mulheres e as crianças ficaram sob vigilância num quarto de pensão. Lembro-me das mães chorarem e de nós termos fome.Passados dois ou três dias fomos obrigados a regressar à terra.

Mais tarde, sempre conseguimos ir para França, depois para o Canadá e de lá regressámos.Nessa altura eu já entendia muito mais das coisas, mas não compreendia a guerra colonial. As mortes. As mutilações. O desespero de todas as mães que tinham filhos na idade da tropa. Não compreendia porque haviam livros proibidos. Não compreendia porque Peniche continuava a receber homens e a devolvê-los doentes ou em caixões.

Na manhã do dia 25 de Abril de 1974 estava a preparar-me para ir para o Liceu, quando a rádio cantou "Grandola Vila Morena".

Quando os meus filhos nasceram já Abril era o mês de um Portugal Novo e os cravos ,as flores da LIBERDADE ! De Peniche, conhecem a história, mas as suas memórias de lá são de férias coloridas como as velas dos barcos.

25 de Abril, Sempre!
Liberdade, Sempre!


Poema publicado neste blog em Abril de 2006:


É para ti, meu filho,que hoje canto !
Canto por já não teres de forrar livros a papel pardo.
Canto por não teres de esconder os teus poemas.
Canto por não teres sido obrigado a matar.
Canto por não teres sido preso.
Canto por não teres sido torturado.
Canto por não teres sido obrigado a fugir.
Canto por não teres sido morto.
São para ti, meu filho,
os cravos do poeta,
os cravos de Abril !
Porque estás aqui,
vivo e feliz :
LIVRE na tua escrita!


Escrevo em memória da dor e das lágrimas de todas as mães, que, ao contrário de mim, não tiveram a felicidade de dar á luz depois do 25 de Abril.


quinta-feira, abril 23, 2009

Dia do LIVRO

Foto Aurora V.



Livro aberto

As palavras que nunca te direi
Como um romance...
Palavras loucas
Palavras soltas
Textos secretos
A Morte é uma flor
Só.


A Letra escarlate
O perigo do Dragão
Explicação dos pássaros
A Pérola.
A Ilha.
Essa...

A Dama misteriosa
Um homem na Lua
Manhã submersa
Domingo à tarde
A noite e o riso
O Paraíso.

(títulos...títulos...)

Todos os nomes
Contos eróticos
Sete contos góticos
E...
Madame Bovary!

As palavras que nunca te direi
estão aqui eu sei...
bem em meu redor
na estante (amor!).

Talvez um dia consiga
na madeira que geme
Madame Chrysanthème
um livro que diga:

"Mon Dieu...que je t'aime!"
.

(Poema organizado com títulos de alguns dos meus livros, datando de finais dos anos 90)

terça-feira, abril 21, 2009

22 de Abril- DIA DA TERRA



De mãos dadas...


... com todo o AMOR




... vamos cuidar do nosso lindo planeta azul!
Por nós.
Pelos nossos filhos e netos.
Pelo futuro de toda a humanidade
e de todos os seres vivos.





Fotos Google images de autores não mencionados

segunda-feira, abril 20, 2009

Mar


Olhar o mar.



Captar o mar.



Guardar o mar.
No olhar.


Fotos Clotilde S.


sábado, abril 18, 2009

Dia Mundial dos Monumentos e Sítios


Fotos Clotilde S.(esta manhã)



Pediste-me água e eu levei-te uma fonte.




Pediste-me silêncio e eu levei-te um poema.






quinta-feira, abril 16, 2009

A VOZ


Dia Mundial da Voz.

Um poema tirado da gaveta.




Daquela voz
voam pássaros vermelhos,
desenhando quimeras
onde o sonho morrera.

E nesta voz
nascem pétalas de espelhos
inventando jardins
onde a esperança perecera.







terça-feira, abril 14, 2009

Relíquias


Misty Rose - A. Vanderbosh


Não os reconheço na minha casa.


Os móveis calados

aqui aportados,

são apenas relíquias

equivocadas.


Falam-me, no entanto,

os bustos e os quadros,

de outras vidas,

mensageiros que são

de um tempo perdido.


Sei-lhes as histórias,

Os contornos e as cores.

Reconheço-lhes a patine

dos dias em que a casa grande

se enchia de rosas e

se abria para as festas.






Passei por lá há dias.

A palmeira secou

e o anjo do lago

chorava

a morte

do roseiral.


Como eu ainda choro

a morte do meu pai.


segunda-feira, abril 13, 2009

Soneto - Fontes


La Fontaine - Bouguereau



Tanto soneto e ainda tanto madrigal !
Enquanto saboreio Ary dos Santos,
e admiro Pessoa mais a prosa de Quental,
leio em Florbela o espelho dos meus prantos.

Nomes fortes que enobrecem Portugal,
este rio no qual navego, minha raiz.
São os grandes deste pequeno país,
as minhas fontes de água pura, manancial!

Pergunto-me que faço aqui frente ao papel.
Pobre artesã de pedra tosca sem cinzel,
meus parcos versos são rabiscos a carvão.

Pois se não sei das Musas nem da Arte,
como poderei cantar por toda a parte,
com a força que em Camões foi perfeição?



domingo, abril 12, 2009

Páscoa




FELIZ DIA
NESTE...





Domingo de Páscoa



Vamos recordar Aquele que deu a vida por nós acreditando que um mundo melhor era possível. Votos de Paz, Luz e Amor !






Um momento especial para os amigos da minha geração...


sexta-feira, abril 10, 2009

Os poemas



Méditation- W. Bouguereau


Como rios que se apartam e ao mar retornam.

Como hortênsias que se fanam e reflorescem.

Como taças de água que se enchem e não se entornam.

Como rostos que se perdem e não se esquecem.

Como jóia rutilante em colo de moça.

Como as datas memoráveis se festejam.

Como açúcar que a nossa boca adoça.

Os Poemas são palavras que nos beijam.


Clotilde Simões

quinta-feira, abril 09, 2009

Mulher sentada






"Femme assise" J. Yoska 1969


Mulher sentada


Mulher sentada no silêncio,
expirando dor,expirando mágoa.
Olhar de deusa destronada,
nos cabelos uma ave abandonada.
Mulher sentada à beira de água,
nos labirintos do pensamento,
corta marés, busca o fanal.
Etérea a paz deste momento,
a alma desvenda o firmamento,
onde tudo é Alfa e Ómega... intemporal!

Clotilde Simões

terça-feira, abril 07, 2009

As coisas simples



Hoje, não tinha pensado em postar o que quer que fosse,
por falta de inspiração ou talvez preguiça,

mas...

uma " simples, uma foto simples" da minha amiga Maria P.
na sua Casa de Maio,

levou-me a deixar aqui esta mensagem,

também ela simples:





Apreciem as pequenas coisas !



Como umas simples margaridas.


Obrigada, Maria!



segunda-feira, abril 06, 2009

VIVER




VIVER é uma contínua caminhada.

Quantas vezes sem bússola.

Mais das vezes sem qualquer itinerário.

O mal é a incerteza da chegada.

O bem é o prazer de caminhar.




sexta-feira, abril 03, 2009

Soneto


Menina e lenda








Ternas e belas minhas manhãs de Abril,
breves hortênsias bailavam no jardim.
Lá bem no alto, o céu turquesa e o anil
Em baixo, as rosas sorrindo para mim!

Frescas as urzes e as seivas dos pinhais...
E no muro de hera, pertinho dos penedos,
Cantavam alegremente os pardais,
felizes, como eu, em seus folguedos.

A ponto cheio fazia meus bordados,
ingénua ainda, tão simples, sem cuidados!
Menina e lenda do meu reino fantasia.

Então, ao ritmo da Primavera que passava,
quadras gentis minha boca recitava,
e eu era moça, musa e ninfa, poesia!

Clotilde Simões
Abril,2009







Desejo-vos um excelente fim de semana !

quinta-feira, abril 02, 2009

Essa palavra





Não escrever. Não dizer. Não falar.
Ignorar que a Palavra existe.
Guardar a Palavra com todos os seus contornos
Nos recônditos mais secretos da alma.
Ali, onde convive com o pesadelo diário da Ausência,
Onde partilha o caminho escarpado da Saudade.
Guardá-la aqui,no coração, no peito,
Onde as luas e os fogos não adormeceram,
Ainda!

Não soletrar a primeira sílaba.
Não pronunciar sequer a sua primeira letra.
Ignorar a Palavra.
Esconder a Palavra.
Matar a Palavra!

A Palavra não pode existir.
A Palavra não pode viver.
Porque a Palavra acorda fantasmas.
Porque a Palavra corrói!

Mas a Palavra é fecunda.
Renasce.
Copula.
Propaga-se.
A Palavra invade a carne, o sangue, os neurónios!
A Palavra quer possuir.
A Palavra pede.
A Palavra exige!

Urge abandonar a necessidade física da Palavra.
Esquecer a teoria filosófica da Palavra.

Guardar apenas a essência, o perfume, o calor da Palavra.
Guardar apenas as veladas alquimias da Palavra.
Saborear a Palavra nos silêncios crepusculares.

E continuar disfarçando, ignorando, fingindo
Que a Palavra não precisa ser escrita, dita, gritada, sussurrada, gemida!

Essa Palavra...Poesia
Que eu amo Absolutamente!

Clotilde Simões