
Se o mar que sou se veste e segue
pela orla das falésias e areais
serei a voz que embora pregue
enrouquece no silêncio dos pinhais.
Nas mãos trago palavras desenhadas
restos de cantigas e maresias
asas breves de gaivotas deplumadas
pelas quimeras de antigas poesias.
Se o mar que sou se despe e cai
no deserto de uma duna mais sombria
serei a voz que chora a voz que vai
encontrar eco numa concha bela e fria.
No olhar guardo infinitas memórias
ternos brilhos mil luas transparentes
feitas de sonetos e de estórias
de cometas e muitas estrelas cadentes.
Se o mar que sou já me aborrece
Sou tecedeira que não tece.
Se o mar que sou já não me espanta
Sou cantadeira que não canta.
Clotilde S. 2009