quarta-feira, setembro 07, 2011

O mar. A onda. A gaivota.(versão 2011)



Contigo sou de novo o mar e a onda
e ainda a gaivota sobrevoando a azenha,
pousando suavemente sobre o penedo do Guincho.

Agora a paz dos dias e das palavras
e o calor da tua mão presa na minha escrita.
Há, eu sei, uma tepidez doce nas tuas mãos, sabias?
Como se trouxesses sempre contigo
o Sol dos instantes domingueiros, 
a languidez da charneca alentejana,
algumas conchas que adormeceram no areal,
as palavras adivinhadas no silêncio.
Contigo aprendo a voar,
a enterrar receios na pedra dura dos rochedos,
a inventar palavras que te intrigam,
porque os meus textos há muito que esqueceram a transparência das águas.

Os outros, os amigos, os alegres,
ficam no cais
presos a copos de cerveja
e a conversas ligeiras.
Nada sabem das coisas que nos dizemos no silêncio,
porque há muito que esqueceram
as palavras do amor e do sentir.
Para os outros, os amigos, os alegres,
uma gaivota é uma gaivota, porque sim.
O mar  tem as marés que sempre teve
e o amor é um vocábulo gasto,
guardado no velho alfarrábio,
 esquecido numa caixa de cartão
entre fotografias de casamentos e baptizados,
rostos jovens que o tempo desbotou e amareleceu.
Nada sabem daquilo que os nossos olhos vêem escrito na brisa.
Ignoram os desenhos das nuvens,
os segredos de uma noite sob as estrelas,
a linguagem dos pássaros e das fases lunares.

Os outros, os amigos, tombam de sono,
 esvaziam mais um copo, ou mais outro para o caminho
em noites já vazias de sonho
enquanto as suas mulheres assistem a telenovelas
e choram em silêncio
por já não saberem dizer "amo-te".
As suas mulheres engordam na solidão
de noites inteiras comendo chocolate
e vão lambendo os dedos de unhas estragadas pelos 
esfregões da cozinha.
Nas telenovelas, as actrizes são belas e jovens,
os actores possuem olhos sedutores,
dizem palavras que elas nunca ouvirão.
As mulheres dos amigos, dos alegres,
são as mulheres dos amigos, as tristes.
Perderam as asas, esqueceram o luar.


Há, eu sei, uma tepidez doce nas tuas mãos, sabias?

E eu poderei sempre dizer que amo
e que serei eternamente o mar, a onda e ainda a gaivota sobrevoando a azenha.

1 comentário:

sandrafofinha disse...

Poema lindissimo amiguinha clotilde. O mar transmite-nos bastante tranquilidade!! Adorei o que li,muitos parabens por tão boa escrita. beijinhos fofinhos e tudo de bom para ti amiguinha.