Contigo sou de novo o mar e a onda
e ainda a gaivota sobrevoando a azenha,
e ainda a gaivota sobrevoando a azenha,
pousando suavemente sobre o penedo do Guincho.
Agora a paz dos dias e das palavras
e o calor da tua mão presa na minha escrita.
Há, eu sei, uma tepidez doce nas tuas mãos, sabias?
Como se trouxesses sempre contigo
o Sol dos instantes domingueiros,
a languidez da charneca alentejana,
algumas conchas que adormeceram no areal,
as palavras adivinhadas no silêncio.
Contigo aprendo a voar,
a enterrar receios na pedra dura dos rochedos,
a inventar palavras que te intrigam,
porque os meus textos há muito que esqueceram a transparência das águas.
Os outros, os amigos, os alegres,
ficam no cais
presos a copos de cerveja
e a conversas ligeiras.
Nada sabem das coisas que nos dizemos no silêncio,
porque há muito que esqueceram
as palavras do amor e do sentir.
Para os outros, os amigos, os alegres,
uma gaivota é uma gaivota, porque sim.
O mar tem as marés que sempre teve
e o amor é um vocábulo gasto,
guardado no velho alfarrábio,
e o amor é um vocábulo gasto,
guardado no velho alfarrábio,
esquecido numa caixa de cartão
entre fotografias de casamentos e baptizados,
rostos jovens que o tempo desbotou e amareleceu.
Nada sabem daquilo que os nossos olhos vêem escrito na brisa.
Ignoram os desenhos das nuvens,
Nada sabem daquilo que os nossos olhos vêem escrito na brisa.
Ignoram os desenhos das nuvens,
os segredos de uma noite sob as estrelas,
a linguagem dos pássaros e das fases lunares.
Os outros, os amigos, tombam de sono,
esvaziam mais um copo, ou mais outro para o caminho
em noites já vazias de sonho
enquanto as suas mulheres assistem a telenovelas
e choram em silêncio
por já não saberem dizer "amo-te".
Os outros, os amigos, tombam de sono,
esvaziam mais um copo, ou mais outro para o caminho
em noites já vazias de sonho
enquanto as suas mulheres assistem a telenovelas
e choram em silêncio
por já não saberem dizer "amo-te".
As suas mulheres engordam na solidão
de noites inteiras comendo chocolate
e vão lambendo os dedos de unhas estragadas pelos
esfregões da cozinha.
Nas telenovelas, as actrizes são belas e jovens,
os actores possuem olhos sedutores,
dizem palavras que elas nunca ouvirão.
As mulheres dos amigos, dos alegres,
são as mulheres dos amigos, as tristes.
Perderam as asas, esqueceram o luar.
Há, eu sei, uma tepidez doce nas tuas mãos, sabias?
E eu poderei sempre dizer que amo
e que serei eternamente o mar, a onda e ainda a gaivota sobrevoando a azenha.
e que serei eternamente o mar, a onda e ainda a gaivota sobrevoando a azenha.
1 comentário:
Poema lindissimo amiguinha clotilde. O mar transmite-nos bastante tranquilidade!! Adorei o que li,muitos parabens por tão boa escrita. beijinhos fofinhos e tudo de bom para ti amiguinha.
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